quinta-feira, janeiro 26, 2006

Nem daqui a 50 anos...

Nas últimas duas semanas por razões profissionais tomei contacto com uma dura realidade que desconhecia, apesar de ser professora. Fui visitar algumas escolas do 1º ciclo do ensino básico na zona velha da cidade de Lisboa. O que vi pôs-me mal disposta. Por este andar nem daqui a 50 anos a educação estará no topo das nossas prioridades.
Na maior cidade do país, nos bairros emblemáticos da baixa funcionam escolas em andares labirínticos de prédios degradados que já foram de habitação. Às vezes a "escola" distribui-se por dois ou três andares com escadas íngremes de degraus estreitos. Existem casas de banho malcheirosas, portas partidas, espaços degradados. Os míudos não têm recreio e quando têm é entre paredes e muros altos, espaços pequenos e frios. Em alguns casos parecemos transportados para os anos 30 do século passado!!
É chocante quando pensamos num país que esbanja dinheiro e que se deu ao luxo de construir dez estádios de futebol!
Percebe-se que cuidar daquelas escolas e das pessoas que lá "vivem" está no último lugar da lista de prioridades dos poderes locais daquela zona. Do governo central nem vale a pena falar. O ministério da educação é um monstro, um elefante branco que nenhum ministro consegue gerir.
A mensagem que passa é a do estado decadente a que chegou a educação neste país.

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Lar de Idosos, Crimes Ambientais e Esbanjamentos

Preocupam-me muito a ignorância e a estupidez que grassam neste país. Vem esta afirmação a propósito da construção do lar de idosos na minha aldeia.
Alguns doutos senhores da terra decidiram construir um lar de idosos. Um armazém para velhos é assim que vejo essas estruturas que decidimos criar para arrumar os indesejáveis. Para levar a cabo a sua obra, começaram por destruir uma zona verde no meio da aldeia, tapando, inclusivé, um poço com água potável que mesmo em anos de seca podia garantir o abastecimento a algumas pessoas e à própria instituição. Essa zona verde era um bom quintal onde existiam árvores de fruto e boa terra para cultivar legumes. Pertencia ao edifício onde funciona o infantário, uma das valências da instituição, o Centro de Assistência Paroquial. Além de se retirar qualquer possibilidade de o espaço poder vir a ser aproveitado como um espaço saudável para as crianças, retirou-se qualquer possibilidade de alargamento, a criação de um berçário, por exemplo, que dizem fazer falta. O monstro de cimento que lá decidiram "plantar" é de uma volumetria descomunal, completamente desenquadrado de tudo o que existe em volta e na aldeia inteira. Penso que as doutas inteligências se confudiram e pretendiam talvez uma pensão residencial num espaço urbano em vez de um equipamento para idosos numa aldeia. E não se diga que não existiam outros terrenos. Um dos possíveis fica contíguo ao centro de dia já existente o que só facilitaria a logística de gestão dos equipamentos.
O que impressiona é que o projecto tenha sido aceite e aprovado pelas diversas entidades oficiais por onde passou, a começar pela Segurança Social, Câmara Municipal,... Que existam burros não me admira, mas tantos!!...
E assim é esbanjado o dinheiro dos contribuintes!

sábado, janeiro 07, 2006

Um país atrasado com manias de tecnológico (II)

Antes da leitura deste capítulo vale a pena lerem o Capítulo 1, publicado no post anterior.

Capítulo 2
Só para vos actualizar quero dizer-vos que este segundo capítulo é menos emocionante. O funcionário que me atendeu na secção de execuções fiscais não era o mesmo do capítulo anterior. Percebeu melhor o problema e tentou actuar usando a lógica. Assim, consegui pagar apenas o valor do imposto como desejava mas o processo de juros de mora por atraso no pagamento continua a decorrer. O papel e a burocracia não são eliminados com tanta facilidade assim, o sistema precisa de continuar a alimentar-se destas coisas para não definhar. O romance vai continuar, só não sei quando sairá o próximo capítulo.

quinta-feira, janeiro 05, 2006

Um país atrasado com manias de tecnológico

Capítulo 1
A história que vou contar é uma novela. Aposto que terá vários capítulos. Este é apenas o primeiro e a vítima sou eu. A cena passa-se com o nosso mui moderno serviço de impostos.
Fiz uma pausa de Natal numa cidade pequena que tem como todas uma repartição de finanças onde me dirigi para perguntar o que teria acontecido ao meu IRS de 2004 pois, até à data, não tinha recebido qualquer informação sobre reembolso ou pagamento, apesar de ter feito a entrega da declaração como manda a lei.

O funcionário dirigiu-se ao computador e abriu o meu processo o que em português se designa pelo bonito nome de cadastro. Advinhava-se sarilho pois "a nota de liquidação" (termo oficial para a dita informação), tinha sido emitida e enviada para a minha morada, logo se não tinha sido recebida, algum problema haveria. Entretanto, estava em curso a emissão de uma certidão de dívida pois devia ter pago o imposto até final de Outubro e o atraso já era grande. Fui aconselhada a dirigir-me de imediato à "minha" Repartição de Finanças.
O imediato foi ontem dia 4 de Janeiro deste Novo Ano, depois de terminadas as mini-férias e logo que a azáfama do regresso me permitiu. Assim fiz como boa cidadã e na tentativa de resolver de imediato o problema e pagar a dívida pois era disso que se tratava e não de reembolso, para meu azar.

Com facilidade recuperei a dita carta que tinha entretanto sido devolvida aos serviços por um carteiro super profissional e fiquei a saber a razão para esse facto. A minha morada estava incompleta porque no envelope não constava o número do andar onde vivo
pelo menos 14 anos. O carteiro considerou o endereço insuficiente e devolveu a carta. Não vou comentar esta atitude apesar de no prédio existir uma porteira que é a mesma há pelo menos dez anos. Enfim azares de quem vive na cidade grande, desumanizada, etc.etc... com carteiros burros mas muito profissionais.
Interessante é que a dita falha existe apenas no envelope e não no ecrã do computador onde tudo está nos conformes. Para quem conhece um pouco o funcionamento de computadores não é difícil adivinhar o que terá acontecido ao número do andar. A impressora comeu! porque o papel foi mal colocado ou porque o comprimento do ecrã (campo morada no programa de base de dados) é muito grande quando comparado com a mancha da folha onde se realiza a impressão. Coisa simples e lógica para pessoas medianamente inteligentes. O problema teria uma resolução fácil e que seria por exemplo:
1. um funcionário inteligente que de imediato lhe pediria desculpas pelo transtorno causado pelo malandro do computador!Afinal, minha senhora, teve de se deslocar à repartição em vez de receber comodamente a informação em casa e na data certa, sem preocupações .
2. a solicitação de que regularizasse a situação se possível de imediato, de acordo com a sua disponibilidade financeira e sem encargos adicionais, como era óbvio, já que acabava de ter uma despesa com a qual não contava e, enfim, a pronta solução do problema para as duas partes.
Queriam esta versão?
Claro que não a têm. É que assim não existiria novela e este país não se chamava Portugal.
Nem pensar!!
Então qual foi a cena seguinte?
1. uma secção chamada "execuções fiscais" com um funcionário carrancudo e extremamente antipático e uma contribuinte a solicitar formalmente informações sobre o processo e a perguntar como pode reclamar.
2. o dito funcionário muito irritado dizendo-lhe que não pode reclamar pois não vai conseguir nada
3. uma contribuinte que pergunta de forma irónica mas tentando manter-se educada se o país onde vive não se diz democrático há 30 anos mas ao mesmo tempo concordandp com o "não vai conseguir nada" pois não há sistema de justiça o que é uma óbvia contradição com o termo "democrático". Mas, enfim, ao menos que lhe seja permitido meter mais um papel para alimentar a engrenagem de um sistem que vive deles e que os adora.
4. um funcionário que ordena à contribuinte que vá a outra secção saber a data em que a morada foi alterada no computador
5. uma contribuinte que pergunta se não é possível ser ele a falar com o colega sobre isso;
6. um funcionário que diz um redondo não;
7. uma contribuinte a obedecer dirigindo-se à dita secção com uma primeira funcionária que, adivinhando a complicação, lhe diz que se calhar não é ali. É uma estratégia também muito comum. O despachar a "palhinha" quando se adivinham casos difíceis mas que enfim, lá se decide a chamar um outro colega;
8. um funcionário que se esforça e que consegue a informação e que se dirige comigo às execuções fiscais para levar os dados ao colega. Estes funcionários também existem ainda e às vezes são os salvadores dos cidadãos. Ás vezes por mero acaso encontramo-los e somos menos esmagados pela máquina, é menos doloroso.
9. o funcionário carrancudo a balbuciar que então faça um requerimento ao chefe do serviço mas virando quase de imediato as costas e afastando-se. Ou seja, meta lá o papel mas não por minha vontade!
10. uma contribuinte que perde o resto da tarde a elaborar uma carta com duas páginas para enviar no mesmo dia registada e com aviso de recepção ao dito chefe. Que falha todos os seus compromissos profissionais. A contribuinte é também funcionária do sistema num outro ministério.
A carta seguiu ontem à noite. Falta ainda enviar outras, pois resolvi dar conhecimento da história
ao Director dos serviços centrais, ao Director Geral dos Impostos e, ainda, ao Provedor de Justiça.
Uma amiga que já passou por coisa semelhante aconselhou-me ainda a voltar hoje à dita repartição para tentar pagar o valor do imposto em dívida e parar o débito dos juros por atraso no pagamento. É isso que irei tentar fazer amanhã perdendo mais uma tarde de trabalho. Aí terá certamente início mais um capítulo da novela.
Querem tentar adivinhar algumas cenas do próximo capítulo?
(continua)